Que Futuro?

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Com o correr dos tempos vamos constatando que vão aparecendo cada vez mais crianças com sintomas do espectro do autismo, o que deveria funcionar como um sinal de alerta para a nossa sociedade que me parece andar um pouco adormecida para esta realidade. Já vai sendo tempo de parar para pensar que “estas coisas” só acontecem aos “outros”, pois quando menos se espera algo nos pode também bater à porta!

Tenho verificado com alguma mágoa que a nossa sociedade não dá respostas para este tipo de deficiência, e se não forem os pais ou familiares a fazer alguma coisa por estas pessoas, a sua integração na sociedade activa será sempre condicionada. Desiludam-se aqueles que sendo hoje pais de crianças autistas em idade escolar, pensam que quando os seus filhos chegarem à idade adulta (e esse tempo chega mais depressa do que se imagina) terão portas abertas e oportunidades iguais aos “ditos normais”. Muito, mas mesmo muito terá ainda que ser feito para que essas oportunidades cheguem, e só com união isso poderá ser alcançado.

Penso que grande parte dos pais ainda não se consciencializou que, apesar da vida escolar dos seus filhos estar hoje muito mais facilitada do que há 20 anos atrás, com terapias integradas, currículos especiais, etc., isso não é suficiente para um dia mais tarde procederam à integração dos seus filhos na sociedade activa. Se fizermos uma pesquisa verificamos que num universo de milhares de autistas que existem pelo mundo fora, provavelmente contam-se pelos dedos, aqueles que tiveram sucesso na vida. Há portanto que lutar, não individualmente mas em conjunto, pois sempre ouvi dizer “a união faz a força”! As associações foram criadas para dar as repostas que o estado não quer ou não tem capacidade de dar, mas é necessário que os interessados colaborem, trabalhem em conjunto e não esperem que alguém tenha as iniciativas e o trabalho, para um dia mais tarde outros poderem vira a colher os frutos. Não podemos esquecer que as associações são pertença de todos os sócios, que o autismo é irreversível e a experiencia diz-me que sem tendência para registar melhoras, antes pelo contrario, por isso acho que deveríamos todos remar no mesmo sentido ajudando-nos mutuamente e não nos abstendo de participar, de colaborar, de comparecer quando para isso formos solicitados. A vida actual é muito agitada mas também é muito curta, pois de um momento para o outro podemos partir e então o que será dos nossos filhos se não houver uma instituição que os apoie? Se a família não os ajudar, então terei que dar razão a um psiquiatra que quando o meu filho tinha 18 anos ao ser questionado sobre qual seria o futuro do rapaz me disse na maior descontracção: – “ o seu filho? O futuro dele será receber uma pensãozeca do estado e ser acolhido numa instituição de caridade!”. Será este o futuro que nós pais queremos para os nossos filhos?

Helena Vieira mãe de jovem Asperger de 34 anos


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