Os piores anos da minha vida

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Parece que regressei aos piores dias da minha vida! – esta é a frase que ilustra melhor o que eu sinto quando me desloco diariamente para o meu posto de trabalho, que actualmente é a biblioteca de uma escola. Só o facto de estar a dirigir-me para escola já é mau, pois faz-me lembrar todos aqueles maus anos que passei quando andei a estudar, trabalhar todo o dia na biblioteca é muito deprimente, mas  pior é ter que ouvir as boquinhas foleiras que os alunos me dirigem.

A primeira experiência de trabalho que tive foi no CESAE. Depois de frequentar o curso Técnico de Escritório, acabei por ficar a lá a estagiar. Gostei do ambiente, dos professores e dos colegas, acho que fui compreendido e não me senti discriminado. O trabalho que me foi destinado para três meses de estágio, consegui fazê-lo em seis semanas, pois estava a trabalhar num gabinete só com o orientador, num ambiente muito calmo.

Trabalhei depois na Câmara Municipal de Mangualde e gostava do meu trabalho mas não gostei de lidar com certas pessoas que trabalhavam comigo  porque me usavam para fazer o trabalho delas.

Posso dizer que a minha experiência no mercado de trabalho não tem sido muito boa, e acho que tem vindo a piorar. Apesar de actualmente se falar muito numa sociedade justa e em igualdade de oportunidades, penso que estamos muito longe de tudo isto pois, salvo raras excepções, as pessoas com quem tenho contacto a nível profissional “querem lá saber se tenho problemas ou não, estão-se pouco lixando para isso” ainda há poucos dias uma senhora que também trabalha na escola me disse que eu “estava a tirar o lugar a outro”, uma simples frase que ainda hoje me faz sentir um inútil.

Eu gostava de trabalhar num escritório, pois desde quer tenha um trabalho determinado, num ambiente calmo ou melhor, mais solitário do que calmo, tudo corre bem. É que eu tenho total inaptidão para estar a trabalhar num ambiente muito “povoado”. Sozinho consigo trabalhar melhor e muito mais depressa, só precisava de alguém me desse uma oportunidade para eu poder mostrar aquilo que sou capaz de fazer!

 

Por Rui Vieira

                                                               (Jovem adulto com Síndrome de Asperger, 30 anos )


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